ESPAÇO CRESCER
Saiba como agir quando descobre seu filho praticando pequenos furtos
Apesar de compreensível, o ato não pode ser ignorado
Redação Crescer

Você encontra uma lapiseira diferente na mochila do seu filho. Ele diz que ganhou de um colega. Os “presentes” tornam-se rotina. Surge a dúvida: será que ele os roubou? A primeira reação dos pais é entrar em pânico.
Envergonhados, já pensam em punir a criança — o que não é a melhor atitude. “Antes de tudo, os pais devem descobrir o motivo que levou a criança a roubar. Talvez ela esteja querendo falar algo, mostrar que está com problemas”, afirma a psicóloga Erane Paladino.
Antes dos 6 anos de idade, porém, a criança rouba inconscientemente. Egocêntrica por natureza, ela acredita que seja normal fazer o que tiver vontade: se gosta de algum objeto, basta pegá-lo. “Nessa fase, é o desejo que comanda as ações”, explica a psicóloga. Por volta dos 7 anos, embora entenda melhor que roubar é errado, ainda é difícil controlar os impulsos. Em alguns casos, ela furta coisas que desejaria ter, como uma borracha diferente ou algo de alguém que admire muito. “Não rouba apenas o objeto, acredita que também está levando as qualidades do proprietário, que costuma ser alguém próximo”, diz Erane. Segundo ela, isso é sinal de carência afetiva.
Apesar de compreensível, o ato não pode ser ignorado. “É uma oportunidade importante para falar sobre o que é certo e errado”, acredita a psicóloga Erane. Na maioria dos casos, uma boa conversa resolve o problema. “Ameaças e constrangimento não funcionam. O ideal é fazer com que a criança tente se colocar no lugar da vítima. É só perguntar: como você se sentiria se pegassem um brinquedo seu?”, sugere a psicopedagoga Alessandra Thomas Lee, coordenadora pedagógica do Colégio Elvira Brandão, de São Paulo. Consertar o erro também é importante. Mas não obrigue a criança a devolver o objeto furtado pessoalmente, se ela tiver vergonha. Você mesmo pode fazê-lo, destacando que ela está arrependida.
Desejo adiado
Alessandra conta que, certa vez, um aluno da 1ª série roubou o dinheiro do lanche de um amigo. Sem alarde, a professora disse que quem quisesse falar algo poderia se dirigir à coordenação mais tarde. Ressaltou que o colega lesado estava triste, pois ficou sem dinheiro para comer. Mesmo assim, não haveria punição nem os pais seriam avisados. Minutos após o recreio, o autor do roubo disse a verdade: pegou o dinheiro porque queria comprar algo na papelaria da escola. Pediu desculpas e devolveu o troco. “Diante disso, expliquei à criança que nem sempre temos aquilo que queremos de imediato. Às vezes, é preciso esperar. O que não significa que não seremos capazes de realizar o desejo mais tarde.” O aluno entendeu o recado: o comportamento não se repetiu.
Recaídas
Nem sempre a criança aprende a lição na primeira vez. É bom estar preparado para algumas reincidências. “Mas, se, mesmo após um posicionamento claro e compreensivo dos pais, o problema se repetir com freqüência, talvez seja o caso de buscar a orientação de um especialista”, aconselha a psicóloga Erane Paladino.